sábado, 3 de novembro de 2012

Privatização, ou acumulação por Roubo?                                                          Por João Ricardo Nogueira*


Para retirar o mundo capitalista da estagnação e crise econômica, a solução encontrada nos últimos anos, foi ampliar os campos de atuação e lucro da iniciativa privada para os diversos setores econômicos que até então eram vistos como direitos, e por tanto garantidos e geridos pelo estado.

Ou seja, a transferência dos direitos através de concessões, e das propriedades públicas através das privatizações, tornaram-se corriqueiros. Vale ressaltar que estes direitos e patrimônios públicos, foram conquistados com muita luta da sociedade, em especial das classes menos favorecidas. Assim, o domínio do capital privado acumula-se através de uma espoliação, que é contrária ao bem coletivo. Assim, conclui-se que a transferência das obrigações e direitos públicos para a iniciativa privada, é um privilégio a determinados grupos econômicos, em detrimento da população que destes serviços precisam.

O argumento na defesa das políticas privatizantes, tem sido o de que as estatais seriam improdutivas, dariam prejuízo (e estariam sempre endividadas), seriam usadas como cabides de emprego, seriam um canal propício à corrupção, e só sobreviviam devido aos subsídios governamentais, entre tantos outros argumentos utilizados para nos enganar, pois contraditoriamente aos argumentados, sempre foram privatizadas as empresas lucrativas. Como foram os casos, na época, da Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional, que eram empresas muito lucrativas e competitivas.

Só para se ter uma idéia, a Vale do Rio Doce foi sub-avaliada e doada, por apenas R$ 3,3 bilhões. Para se entender o que este valor significava, era menos do que o lucro da empresa em apenas três meses. No ano em que foi leiloada, o lucro líquido da empresa foi de R$ 12,5 bilhões, mais de três vezes o valor de sua venda, sem falar que cerca de um ano depois, a mesma estava avaliada no mercado por R$ 120 bilhões. Na verdade, ela nunca valeu apenas R$ 3,3 bilhões, ou alguém acredita que seus compradores conseguiram a mágica de em apenas um ano, conseguirem um crescimento recorde de mais de 3.636%, pouco mais que 36 vezes o seu suposto "valor original" de venda?

Vale ressaltar que, a corretora Marril Lynch (que a avaliou a estatal) foi acusada de sub-avaliar as jazidas e o conjunto do complexo industrial da Vale, com patrimônio superior a R$ 100 bilhões, mais tarde descobriu-se que a corretora Marril Lynch, era ligada à empresa Anglo American, participante do leilão.

Na época, diziam que os recursos captados com as privatizações serviriam para diminuir a dívida pública, mas, contraditoriamente, a própria política de juros altos, adotada para conter a inflação e atrair investimentos externos, levou a uma elevação da dívida em valores superiores aos supostamente conseguidos com as privatizações, inviabilizado em pouco tempo o suposto objetivo inicial. Digo supostamente pois na grande maioria dos casos o dinheiro para a aquisição das estatais "doadas", vieram do próprio  governo através dos empréstimos do BNDS, o que alias precisa ser checado se estão sendo pagos.

Mas o pior deste processo, alem é claro da "doação" do patrimônio público com esta "estória" pra boi dormir, é que ainda criaram na opinião pública, o senso comum (aquilo que tendemos a repetir, sem termos realmente conhecimento a respeito de maneira mais profunda), de que este seria o melhor caminho, afinal o estado continuaria a ter o controle da qualidade dos serviços privatizados, através das agências reguladoras, que hoje na prática são inversamente dominadas pelos regulados.

Em Cuiabá estamos vendo esta fatídica história se repetir com a privatização da SANECAP, que foi adquirida pela CAB Ambiental por apenas R$ 516 milhões, valor este que ainda será pago parceladamente, sendo R$ 140 milhões em dois anos e o restante a longo prazo. Só para se ter uma idéia do absurdo, com esta privatização, Cuiabá deixou de receber aproximadamente R$ 300 milhões do PAC, que seriam investidos no saneamento de Cuiabá. Isto para não falar que nos últimos meses após a venda, já se prevê que a CAB deve chegar ao final de 2012 com um faturamento de aproximadamente R$ 80 milhões, e projeta-se para 2013 um faturamento de R$ 120 milhões. Ou seja, nos próximos 4 anos a CAB já terá faturado valor superior ao de sua aquisição, e ainda terá mais 26 anos de contrato para explorar o  povo cuiabano, que já está sentindo no bolso os aumentos das contas de água, e a falta dela nas torneiras.


Alguns sites que publicaram este artigo:
► Site Hiper Notícias

*João Ricardo Nogueira, é atualmente Consultor em Telecomunicações, foi Ex-Presidente da ACES – Associação Cuiabana dos Estudantes Secundaristas, e Ex-Presidente da AME – Associação Matogrossense dos Estudantes, tendo como principais conquistas durante seu mandato a frente do Movimento Estudantil, a reconquista da Meia-Entrada, e a conquista o Passe Livre em Cuiabá. (www.jrnogueira.blogspot.com.br)