O envelope rasgado...
Ainda existem homens de honra!
Por João Ricardo Nogueira
Era um belo dia de sábado, e eu estava em meu
plantão de vendas aguardando um cliente que havia marcado comigo. Não demorou
muito e o Seu Renato (como o chamo), chegou ao local combinado.
Na verdade, o Renato já havia estado lá antes de
eu chegar, mas, não por hábito meu, naquele dia me atrasei. Logo que chegou,
percebi que o mesmo não estava com nenhum envelope ou documento em mãos. Achei
estranho, pois dias antes ele havia convencionado comigo a compra de um
apartamento, e neste dia deveria trazer a documentação para concretizarmos o
negócio.
Uma pausa aqui, pois você deve estar se
perguntando: - o que o João está fazendo, não é? Pois é, depois de algumas primaveras, resolvi
ser também Corretor de Imóveis. Tem sido uma ótima experiência, ganha-se bem e tem-se muita liberdade. Alguns dias resolvo
que vou descansar e simplesmente fico em casa.
Achei ótimo isso, rs.
Voltando ao Renato, o mesmo, logo que se assentou
jogou-me um balde de água fria, dizendo que não mais fecharia o negócio que
havíamos acertado. Fiquei triste, mas lhe disse que não havia problema algum,
mas quis saber o que havia acontecido. O Renato com toda a paciência que lhe é
peculiar, resolveu me explicar seus motivos, me contou que estaria atendendo a
um pedido de sua filha, que, alegando a ele motivos pessoais com a imobiliária
que eu representava naquele momento, lhe pediu para não fechar o negócio.
Apesar da má notícia, entendi a situação, e lhe
disse que não teria problema algum, e que, de qualquer modo continuaria à
disposição, caso no futuro precisasse de meus serviços, e neste momento o
Renato me entregou um envelope, dizendo que havia gostado muito de meu
atendimento, e que não achava justo que eu fosse prejudicado. De pronto recusei
e disse que ele não me devia nada, mas o mesmo insistiu que eu deveria aceitar
ou ficaria chateado comigo, e assim resolvi receber o envelope.
Neste momento, ele me disse que tinha dado sua
palavra que compraria de mim o apartamento, e que, por isso, se sentia na
obrigação de me remunerar por meu atendimento. Fiquei feliz com o elogio e o
agradeci, acreditando ter recebido algum valor simbólico. Quando cheguei em
casa, resolvi rasgar o envelope e vi que no mesmo havia um cheque de
R$1.800,00, exatamente o valor que eu receberia de comissão na venda daquele
apartamento.
Concordo com
Aristóteles, mas concordo mais ainda com a Bíblia quando afirma, em Romanos
13:7, que devemos dar honra a quem tem honra. E por isso resolvi contar
publicamente aqui esta história, para honrar o Sr. Renato de Muraro Delanhesi. Afinal é uma das poucas pessoas que
ainda hoje sabe o significado de dar a palavra, ou, como dizem os
mato-grossenses, “fazer um acordo no fio
do bigode”...