quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Eth Ferreira Borges da Luz
Por João Ricardo Nogueira

Vovô Jonas com a vovó Eth
Era uma noite fria em Encarnación no Paraguay, e lá estava minha querida avó Eth na frente do fogão fazendo deliciosas balinhas de açúcar. Mais cedo eu havia desmaiado, foi tão repentino, que a tia Ceila disse que eu caí rápido como o Super-Homem! Achei graça, mas fiquei feliz com a comparação. Minha avó estava me fazendo um mimo! Claro que minhas irmãs também estavam de plantão na expectativa para comer as tão esperadas balas de açúcar! Coisas de criança. Assim me lembro de minha avó - cuidadora!

Muitos conheceram a Missionária Eth Ferreira Borges da Luz, uma fiel serva do Senhor, que durante sua vida se entregou ao ministério como poucos… Ela sempre fez toda a diferença por onde passou, ao lado de meu avô Pastor Jonas Borges da Luz. Sempre mais que uma boa esposa, foi também uma companheira de ministério que combateu o bom combate. Mas não quero falar de seu ministério, quero falar da minha querida vovó Eth.

O ano era 1983, eu e minhas três irmãs, Alina, Alice e Ana Cristina havíamos acabado de nos mudar para o Paraguay, onde iríamos passar um período com meus avós, até que minha mãe se reestabelecesse após sua separação de nosso pai. Foi um período muito complicado para nós. Éramos muito pequenos e não tínhamos muita noção de tudo o que estava acontecendo, mas foi um período fundamental para todos nós, pois foi neste período de nossa tenra infância que tivemos a oportunidade de conhecer melhor nossos avós maternos e pudemos ser educados por eles de maneira muito paternal.


  • Neste período em que vivemos no Paraguay com meus avós, me lembro que mudamos bastante e moramos em várias cidades, pois meus avós eram missionários enviados para lá pela Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira, e depois que implantavam uma nova igreja, um outro Pastor assumia o ministério, e meus avós iniciavam um novo trabalho em outro lugar, e assim foi durante todo este período, em que plantaram várias igrejas naquele país.

Quando ainda estávamos na cidade de Encarnación, no Paraguay, a escola mais próxima de casa, onde estudei, era uma gigantesca escola católica parecida com as escolas salesianas que temos no Brasil. Era uma escola muito rígida e todos usávamos uniformes que pareciam os do Brasil da década de 1940. Por ser uma escola católica, além das professoras, havia as freiras que também participavam de nossa educação, muito rígidas e disciplinadoras! Em certa ocasião, uma delas me bateu com uma palmatória de madeira, pois durante o momento em que tínhamos de ir a uma capela, eu me recusei a ajoelhar perante as imagens que lá estavam, assim orientado em casa por minha avó, e por isso castigado pela freira. Ao chegar em casa e relatar o ocorrido, minha avó foi até a escola conversar com a freira. Assim me lembro de minha avó protetora!

Lembro-me também de um certo dia, em que um amiguinho que brincava comigo na rua, me convidou para almoçar em sua casa, e depois de pedir permissão fui almoçar com ele. Era uma casa muito pobre, e nosso almoço foi bem simples, uma mistura de feijão com farinha acompanhado de mandioca cozida, era tudo o que tinham em casa. Me lembro que achei delicioso, era uma farinha diferente da nossa, e o tempero do feijão - huum - era de encher a boca d’água de tão gostoso. Em minha ingenuidade de criança, achei a melhor comida do mundo! Cheguei em casa contando como estava gostoso o almoço na casa do vizinho e que estava tão bom que eu tinha até repetido. Foi aí que minha avó me explicou que era uma família muito pobre e que aquilo devia ser tudo o que tinham para comer, falando que deveríamos ajudá-los, e foi comigo à casa do vizinho levar um pouco da comida que tínhamos. Assim me lembro de minha avó caridosa!

Minha avó era uma professora nata, estava sempre nos ensinando alguma coisa, bem, como sempre nos corrigia. Falar errado perto dela não passava desapercebido. Ela sempre nos corrigia e nos ensinava o jeito correto de falar, e mesmo depois de adultos, sempre nos corrigiu e exortou, não mais apenas no modo de falar, mas sobre tudo. Tirar dúvidas com ela, era como conversar com uma enciclopédia viva - sempre sabia de tudo um pouco e tinha muita paciência em nos ensinar, respeitando as limitações de cada fase de nossa vida. Assim me lembro de minha avó educadora!

A Dona Eth, como sempre conhecida, era de fato a matriarca da nossa família. Cuidava especialmente de cada um de nós, sabia o aniversário da família toda e quando estava longe, fazia questão de ligar para todos no aniversário, era uma ligação muito peculiar, pois sempre iniciava já cantando os “Parabéns pra você”, algo que seria cafona para qualquer outra pessoa, mas que ela fazia ser muito especial, e  nos deixava feliz com sua ligação. Assim me lembro de minha avó carinhosa!

Estas lembranças de minha querida avó são muito pessoais, mas quem teve a grata satisfação de conhecê-la sabe a pessoa especial que ela foi. Com certeza transcendia sua geração!  Gostava muito de ler e de escrever, publicou alguns livros e deixou alguns escritos. Mas, mais que isso: deixou seu exemplo para nós e para todos os que tiveram a honra de conviver com ela. Ela foi para a Glória aos 85 anos, e, nos deixando em 02 de outubro de 2016, foi ao encontro do Pai, onde, recebida com grande galardão. No Céu, está em Paz!
Vovó Eth aos cinco anos
Tirada em 12/10/1936

"A beleza é uma ilusão,
e a formosura é passageira;
contudo, a mulher que teme ao
Senhor, essa será honrada!"
Provérbios 31:30

Vá em Paz vovó… Até breve!




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