segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Existe solução na promoção do Caos?

Por João Ricardo Nogueira

Na teoria do caos, a ideia principal é a de que uma mudança no início de um evento qualquer, por menor que seja, pode gerar consequências absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis - portanto, caóticos. Parece assustador, mas basta dar uma olhada nos fenômenos mais casuais da vida para notar que essa ideia faz sentido. Imagine que, no passado, você tenha perdido o vestibular na faculdade de seus sonhos porque um prego furou o pneu do ônibus. Desconsolado, você entra em outra universidade. Então as pessoas com quem você vai conviver serão outras, seus amigos vão mudar, os amores serão diferentes, seus filhos e netos podem ser outros... Neste conceito de imprevisibilidade, por que então promover o caos político no Brasil?

O motivo é fácil de entender. Na plena estabilidade as massas tornam-se coesas e difíceis de serem manipuladas. O contrário também é verdadeiro: no caos completo as massas tornam-se vulneráveis e facilmente manipuláveis.
Assim a estratégia, problema-reação-solução, tem sido aplicada desde a Revolução Francesa. Cria-se ou explora-se um problema (político, econômico, social, militar ou ambiental), surge a reação das massas a esse problema, nessa etapa a mídia controlada manipula a opinião pública "definindo" a causa do problema, que quase nunca é a causa verdadeira (“Na guerra, a verdade é a primeira vítima.” ― Ésquilo) então a elite, por meio de seus representantes, apresenta publicamente "a solução" que, via de regra, no final privilegia seus próprios interesses.

Na política, como em tudo na vida, é preciso claramente ter lado. É necessário ter uma firme convicção de suas opiniões, independente da conjuntura ou de quaisquer fatores externos por mais relevantes que pareçam ser, afinal princípios devem ser inalienáveis. Neste sentido, é público e notório que sou de esquerda, pois tenho em minha formação política os princípios da origem da definição do conceito de direita ou de esquerda utilizada para se referir a partidos políticos. Definição essa, que perdeu-se ao longo da história, afinal hoje é comum ver partidos "ditos" de esquerda defendendo políticas de direita, como é o caso da política econômica do atual governo.

Não é segredo que tenho críticas e enxergo muitas contradições no atual governo, em especial na sua política econômica. Dito isso, afirmo que a militância de esquerda não está feliz com esse governo, que não representa o que acreditamos.
Ter críticas ao Governo, entretanto, não significa fazer coro com gente que acredita que o impeachment vai resolver o problema do  Brasil, quando na realidade vai apenas promover a troca de Dilma por Temer, aprofundando ainda mais essa política econômica que só beneficia banqueiros e aumenta a dívida pública brasileira.

Não nego os grandes avanços sociais conquistados nos governos do PT com Lula e Dilma, mais os acertos do passado não são carta branca para mudar a rota como tem sido feito. Dilma desde seu primeiro mandato prometeu em campanha não realizar ações e depois as fez, como o caso do leilão do Campo de Libra, por exemplo. Contradições como estas tem tirado a legitimidade deste governo junto aos movimentos sociais e à militância de esquerda que a ajudaram a conquistar o poder.

Porém um dos mais graves problemas do atual governo é exatamente sua política econômica, que privilegia os bancos e o sistema financeiro. A atual política de juros altos joga por terra todo o esforço do governo para economizar, pois o país paga em juros - em um único dia - mais que os 200 milhões que supostamente serão economizados com o corte dos 8 ministérios. Este sim é um problema estrutural do atual governo, que por sua falta de condição política para enfrentar de frente os grandes interesses econômicos da elite, se submete aos mesmos, no desespero de salvar sua governabilidade. Chega a dar saudade da postura firme do Brizola para contrapor a essas aves de rapina da nação!

Somando a tudo isso, ainda temos um Congresso boicotando o país e defendendo - por interesse próprio - a manutenção de um sistema completamente corrompido e corruptor dos financiamentos empresariais de campanhas políticas. Uma mídia completamente parcial, que "acha" dinheiro do Romário, que nem existe, na Suíça mas não encontra dinheiro do Cunha que de fato existe. Uma mídia que alardeia os gastos do governo mas não tem capacidade de tocar no assunto dos gastos do mesmo governo com juros.

Neste cenário catastrófico ainda temos os escândalos de corrupção, onde boa parte da população (sem se dar conta) vem sendo manipulada a condenar e massacrar tudo que está ligado ao partido do governo ou de seus aliados, e a isentar tudo e todos da oposição. Chega a ser estranho perceber que, mesmo os fatos concretos demonstrando uma clara predominância de envolvimento de partidos como o PP, ainda se tenha a impressão de que apenas o envolvimento do PT mereça as manchetes dos veículos de comunicação.

Quem sabe na rota de caos, na qual vamos a passos largos, um prego fure o pneu do ônibus Brasil, e possamos então enxergar que existem novos caminhos...


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