Existe solução na promoção do Caos?
Por João Ricardo Nogueira
Na teoria do caos, a ideia principal é a de que
uma mudança no início de um evento qualquer, por menor que seja, pode gerar consequências
absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam
praticamente imprevisíveis - portanto, caóticos. Parece assustador, mas basta
dar uma olhada nos fenômenos mais casuais da vida para notar que essa ideia faz
sentido. Imagine que, no passado, você tenha perdido o vestibular na faculdade
de seus sonhos porque um prego furou o pneu do ônibus. Desconsolado, você entra
em outra universidade. Então as pessoas com quem você vai conviver serão
outras, seus amigos vão mudar, os amores serão diferentes, seus filhos e netos
podem ser outros... Neste conceito de imprevisibilidade, por que então promover
o caos político no Brasil?
O
motivo é fácil de entender. Na plena estabilidade as massas tornam-se coesas e
difíceis de serem manipuladas. O contrário também é verdadeiro: no caos
completo as massas tornam-se vulneráveis e facilmente manipuláveis.
Assim a estratégia, problema-reação-solução, tem sido aplicada desde a
Revolução Francesa. Cria-se ou explora-se um problema (político, econômico,
social, militar ou ambiental), surge a reação das massas a esse problema, nessa
etapa a mídia controlada manipula a opinião pública "definindo" a
causa do problema, que quase nunca é a causa verdadeira (“Na guerra, a verdade
é a primeira vítima.” ― Ésquilo) então a elite, por meio de seus representantes,
apresenta publicamente "a solução" que, via de regra, no final privilegia
seus próprios interesses.
Na política, como em tudo na vida, é preciso
claramente ter lado. É necessário ter uma firme convicção de suas opiniões,
independente da conjuntura ou de quaisquer fatores externos por mais relevantes
que pareçam ser, afinal princípios devem ser inalienáveis. Neste sentido, é
público e notório que sou de esquerda, pois tenho em minha formação política os
princípios da origem da definição do conceito de direita ou de esquerda
utilizada para se referir a partidos políticos. Definição essa, que perdeu-se
ao longo da história, afinal hoje é comum ver partidos "ditos" de
esquerda defendendo políticas de direita, como é o caso da política econômica
do atual governo.
Não
é segredo que tenho críticas e enxergo muitas contradições no atual governo, em
especial na sua política econômica. Dito isso, afirmo que a militância de
esquerda não está feliz com esse governo, que não representa o que acreditamos.
Ter críticas ao Governo, entretanto, não significa fazer coro com gente
que acredita que o impeachment vai resolver o problema do Brasil, quando na realidade vai apenas
promover a troca de Dilma por Temer, aprofundando ainda mais essa política
econômica que só beneficia banqueiros e aumenta a dívida pública brasileira.
Não nego os grandes avanços sociais conquistados
nos governos do PT com Lula e Dilma, mais os acertos do passado não são carta
branca para mudar a rota como tem sido feito. Dilma desde seu primeiro mandato
prometeu em campanha não realizar ações e depois as fez, como o caso do leilão
do Campo de Libra, por exemplo. Contradições como estas tem tirado a
legitimidade deste governo junto aos movimentos sociais e à militância de
esquerda que a ajudaram a conquistar o poder.
Porém um dos mais graves problemas do atual
governo é exatamente sua política econômica, que privilegia os bancos e o
sistema financeiro. A atual política de juros altos joga por terra todo o
esforço do governo para economizar, pois o país paga em juros - em um único dia
- mais que os 200 milhões que supostamente serão economizados com o corte dos 8
ministérios. Este sim é um problema estrutural do atual governo, que por sua
falta de condição política para enfrentar de frente os grandes interesses
econômicos da elite, se submete aos mesmos, no desespero de salvar sua
governabilidade. Chega a dar saudade da postura firme do Brizola para contrapor
a essas aves de rapina da nação!
Somando a tudo isso, ainda temos um Congresso
boicotando o país e defendendo - por interesse próprio - a manutenção de um sistema
completamente corrompido e corruptor dos financiamentos empresariais de
campanhas políticas. Uma mídia completamente parcial, que "acha"
dinheiro do Romário, que nem existe, na Suíça mas não encontra dinheiro do
Cunha que de fato existe. Uma mídia que alardeia os gastos do governo mas não
tem capacidade de tocar no assunto dos gastos do mesmo governo com juros.
Neste cenário catastrófico ainda temos os escândalos
de corrupção, onde boa parte da população (sem se dar conta) vem sendo
manipulada a condenar e massacrar tudo que está ligado ao partido do governo ou
de seus aliados, e a isentar tudo e todos da oposição. Chega a ser estranho perceber
que, mesmo os fatos concretos demonstrando uma clara predominância de
envolvimento de partidos como o PP, ainda se tenha a impressão de que apenas o
envolvimento do PT mereça as manchetes dos veículos de comunicação.
Quem sabe na rota de caos, na qual vamos a
passos largos, um prego fure o pneu do ônibus Brasil, e possamos então enxergar
que existem novos caminhos...
Alguns veículos que publicaram este artigo:
► Site Plug News
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