sexta-feira, 9 de setembro de 2016


Atores da Indignação!
Por João Ricardo Nogueira

O significado de hipocrisia, todos sabem. Mas o que poucos conhecem é sua origem, que vem do grego hypokrinein, nome que designava os atores de teatro da antiga Grécia, afinal eles fingiam ser outras pessoas, seus personagens. O que os atores faziam no palco era uma "hipocrisia" do grego hypokhrinesthai, que significava “fingimento”.

Não se passou muito tempo (aliás foi bem rápido), para que e as personas da indignação fossem abandonadas por seus atores, as mascaras envelheceram tão rapidamente que até parece que nunca existiram, foram rapidamente largadas, tornaram-se inconvenientemente vergonhoso ostentá-las.

Afinal, os mesmos atores que outrora soavam as caçarolas e bradavam a todo fôlego que sua bandeira era o fim da corrupção, hoje passivamente a aceitam e seletivamente se calam, como se nada houve-se de errado no reinado daquele cujo nome não pode ser citado, mesmo com tantos escândalos ligados ao atual governo, que quase que diariamente vem a tona.

Já contra Dilma, faziam qualquer negócio, tudo valia e os fins com certeza justificavam os meios, chegaram até a se auto-definirem como "Milhões de Cunhas", seria até cômico se não fosse trágico.

Mas, tudo o que tem acontecido, tem unificado as vozes a favor da democracia. Prova disso, é a recente pesquisa do Senado, onde 93% dos internautas que opinaram, apoiaram a realização de novas eleições e a hashtag #DiretasJá não para de crescer nas redes.

Outro fato interessante, é que (segundo um estudo de @FabioMalini) a hashtag #ForaTemer sozinha, já é mais forte que a soma de todas as hashtag usadas contra Dilma no auge dos protestos antipetistas, que na época totalizaram no Twitter 483.797 posts entre os dias 08 a 16 de março de 2015, contra atuais 769.455 posts da hashtag #ForaTemer no Twitter esta semana, isso sem falar em Facebook.

O fato é que a primavera brasileira está chegando... E vai superar a primavera árabe! O povo já está nas ruas e não vai sair!!!
No #ForaTemer nenhum passo atrás, #TemerJamais!!!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Cristãos em dias de intolerância

Por João Ricardo Nogueira

Vivemos dias difíceis e estranhos! Como as coisas ficarão, só o tempo dirá, mas eu tenho uma certeza, tudo está debaixo da soberania de Deus. Ele está no controle e sua vontade irá se cumprir, e nada mudará isso.

Estamos ferindo tantos mandamentos da Palavra de Deus que fico sem saber por onde começar. As redes sociais estão se transformando em arenas de batalha entre cristãos e estamos, na verdade, reproduzindo aquilo que os nossos irmãos coríntios fizeram. Só posso fazer a mesma pergunta de Paulo: “Acaso, Cristo está dividido?” (1 Co 1.13)

Se não deixarmos de lado nossas diferenças e não nos unirmos para lutar pela justiça no nosso país, nós já perdemos a guerra. Cada um tem uma perspectiva, interpretação e ações próprias. Somos diferentes! E por mais incrível que pareça, isso é celebrado na Bíblia! Paulo diz: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4.10). Deus nos fez diferentes, e agimos de maneira diferente, debaixo da graça que ele nos concedeu.

Não precisamos concordar com tudo, mas não podemos desrespeitar nem denegrir um irmão, alguém por quem Jesus morreu, reconheceu que era pecador e agora serve ao nosso Senhor, mesmo que de forma diferente da minha. Precisamos ter em mente que, “Nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12).

Portanto, embora a indignação contra os desmandos e a endêmica corrupção geral na política brasileira seja legítima e necessária, mas ficarmos escandalizados, perplexos porem desunidos e imobilizados não contribui em nada e nem faz justiça à verdade. Na batalha entre o reino de Deus e o reino da perdição, a tarefa do cristão é derrotar o demônio e empurrá-lo para fora desse domínio. É afirmar o senhorio de Jesus Cristo na história. A luta por um sistema mais justo e por leis mais justas, não pode ser travada às custas do esquecimento de que é necessária a graça de Deus para transformar o velho homem. E que qualquer mobilização ou ação política deve começar de joelhos.

Mas, infelizmente o que estamos vivenciando, é um triste período em que o clima crescente de ódio e intolerância ao contraditório político. Inclusive entre os crentes. Quem apoia o governo não merece mais estar na lista de contatos, é bloqueado ou banido nas redes sociais. "Nem merece ser chamado de cristão, Muito menos de irmão." "É um Marxista dissimulado, esquerdista, chavista-bolivariano!" Na outra ponta, "os riquinhos, coxinhas, reacionários, classe média alienada, golpistas e facistas." "Essa gente elitizada, não está nem aí para a injustiça social do nosso país!" Aqui vale uma pausa para reflexão. Jesus foi preso e executado como uma persona non grata tanto para César quanto para o Sinédrio!

Como cristão minhas referências ideológicas são de esquerda, pois ao meu ver, cristão é um adjetivo dado aqueles que seguem as ideias de Jesus Cristo. Em se tratando de Direita e Esquerda não consigo compreender como ser cristão sem, contudo, compartilhar as ideias básicas de Cristo. Particularmente, não consigo entender a visão de alguns cristãos se colocarem contrários aos ideias de Esquerda, como se essas fossem "diabólicas". Digo isso porque se analisarmos, ainda que superficialmente, a vida de Jesus Cristo e de seus seguidores (cristãos primitivos) veremos com muita facilidade se Jesus era de Direita ou de Esquerda.

A linhagem teórica que reúne a esquerda, é o seu ideal de igualdade social, em contraste com a direita que enfatiza o ideal da liberdade individual. Esses termos podem ser imprecisos, mas constituem um ponto de partida para a distinção (ao final trarei as definições). Existem casos em que os dois ideais são compatíveis e complementares, outros em que podem excluir-se reciprocamente, e existe a terceira possibilidade: a de buscar o equilíbrio. Com efeito, nenhum dos ideais pode ser realizado completamente sem limitar o outro. No entanto, a esquerda democrática considera que a liberdade efetiva para todos é possível somente por meio de um certo grau de igualdade.

A democracia tem como elemento central a igualdade “política”. O paradigma liberal afirma que o livre mercado e a democracia não entram em contradição, que existe uma afinidade de valores entre os dois. No entanto, existe um problema fundamental no paradigma liberal, pois o livre mercado limita os que não têm força social para afirmar a sua liberdade. Esta é uma das críticas mais contundente que a esquerda propõe: quem não tem escolha real está submetido à precariedade e à vulnerabilidade. Portanto, há uma tensão inerente ao paradigma liberal, pois a desigualdade econômica mina os direitos políticos e civis.

Podemos colocar a mesma crítica em termos bíblicos. Uma das caracterizações mais centrais da Bíblia a respeito do ser humano é a condição “caída” dele, ou seja, seu afastamento de Deus e consequente tendência ao pecado e à desintegração interior. Essa é uma das condições mais niveladoras da humanidade: “todos nós” somos pecadores. Essa “comunhão” universal humana no pecado é uma das grandes justificativas da democracia: ninguém merece ter poderes ilimitados e não supervisionados sobre os seus semelhantes.

Apesar disso, o cristianismo, no decorrer da história, foi frequentemente usado para defender ideais de desigualdade. Porém, o princípio da igualdade é como a medicina para nós: é boa, não porque seja necessariamente agradável, mas porque estamos doentes. Devido à natureza caída do ser humano, onde houver desigualdade, haverá opressores e oprimidos. Por isso, “amar ao próximo como a si mesmo” inclui, na medida do possível, o esforço para quebrar as estruturas desiguais que engendram a opressão.

No campo da esquerda política, o valor principal é a busca pela igualdade social. Afinal, a liberdade somente se torna efetiva em conjunto com um certo grau de igualdade. Somente assim, o princípio fundamental da democracia, a saber, a igualdade política, se realiza. Porém vemos, cada vez mais, as instituições globalizadas não eleitas ditando as regras para governos nacionais, muitas vezes à custa do bem-estar da população. E vemos governos se tornando reféns cada vez mais do poder financeiro e econômico. Não é difícil perceber como a desigualdade prejudica a democracia.

Há muitos outros argumentos cristãos que podem ser usados a favor de posições políticas que se costuma chamar de “esquerda”. Há, também, argumentos cristãos para defender posições de direita. Tenhamos, então, um debate adulto no meio cristão, sem questionar a sinceridade e, muito menos, a condição cristã do outro lado. Entre a revelação bíblica e as opções políticas de hoje, há uma longa “ponte hermenêutica” a atravessar, e, ao atravessá-la, podemos tentar compartir com os outros caminhantes um pouco da luz que temos e estar abertos para receber deles um pouco da luz que talvez possuam.

Não temos somente uma reputação a zelar, mas uma reputação a zerar!


Definições:
A origem dos termos de direita ou de esquerda, utilizadas na definição dos partidos políticos, remonta à Revolução Francesa, onde os membros do Terceiro Estado, que almejavam uma mudança na forma de governo vigente, se sentavam à esquerda da assembléia, enquanto os do clero e da nobreza, que desejavam a conservação da forma de governo, se sentavam à direita. Grosso modo, hoje podemos assim classificar:

→ Esquerda:
Basicamente trata-se de uma posição ideológica que defende práticas voltadas a uma sociedade mais igualitária. Defende uma melhor redistribuição de renda e respeito as diferenças e prega mudanças na realidade socioeconômica em prol da coletividade.

→ Direita:
Basicamente trata-se de uma posição ideológica conservadora e defensora, hoje, do Neoliberalismo Econômico. Defende a meritocracia e a manutenção da realidade socioeconômica em prol da individualidade.


Nota:
Este é um artigo de opinião, portanto pretende abordar o tema pelo meu ponto de vista, porém deixo claro que existem outras opiniões sobre o tema.